Sim, indubitavelmente ele é o melhor alimento para o seu filho (a)! Nenhum outro alimento ou até mesmo leite industrializado é capaz de oferecer aos bebês todos os nutrientes do leite materno. Este fluido biológico tão poderoso apresenta composição específica que se ajusta às necessidades nutricionais do lactente. Mas, é importante lembrar que o poder do leite materno vai muito além de garantir aporte nutricional adequado, ele é uma substância viva, de elevado conteúdo imunológico e fundamental para o desenvolvimento neuropsicomotor.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o leite materno como única fonte de nutrientes para crianças durante os primeiros 6 meses pós-parto e uma fonte importante para idades ≥ 2 anos. Esta recomendação é apoiada por evidências de que o uso exclusivo do leite materno reduz o risco de morbidade e mortalidade. Além disso, possui uma composição nutricional balanceada que inclui todos os nutrientes essenciais e de 250 ou mais tipos diferentes de fatores bioativos; muitos desses fatores parecem contribuir para o crescimento, desenvolvimento do bebê, bem como para a maturação do seu trato gastrointestinal.
O componente mais abundante do leite materno é a água, contribuindo com 87,5% na sua composição. Todos os outros componentes estão dissolvidos, dispersos ou suspensos em água. Essa quantidade de água no leite materno garante o suprimento das necessidades hídricas de uma criança em aleitamento materno exclusivo, mesmo em climas quentes. O principal carboidrato do leite materno é a lactose, suprindo 40% das necessidades energéticas da criança em aleitamento materno exclusivo. A principal proteína do leite materno é a lactoalbumina, enquanto que a do leite de vaca é a caseína, de difícil digestão para a espécie humana. Proteínas específicas são importantes para a digestão e proteção da criança, tais como alfa-lactoalbunina, lactoferrina, imunoglobulinas, enzimas, hormônios e fatores de crescimento. As gorduras são o componente mais variável do leite materno, e são responsáveis por suprir até 50% das necessidades energéticas da criança pequena. Há predominância de triglicerídeos, que, sob ação da lipase, dão origem aos ácidos graxos. Os ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa são essenciais no desenvolvimento cognitivo e da visão, e na mielinização dos neurônios. A concentração de gordura no leite varia entre as mamadas e numa mesma mamada, por exemplo, a concentração de gordura vai aumentando com a progressão da mamada. Assim, o leite do final da mamada (conhecido como leite posterior) é mais rico em energia (calorias) dando mais saciedade ao seu bebê.
O leite humano possui inúmeros fatores imunológicos específicos e não específicos, que conferem proteção ativa e passiva contra agentes infecciosos. Dentre eles podemos destacar:
- As imunoglobulinas, principalmente a IgA, que forram a mucosa intestinal da criança, prevenindo a entrada de bactérias nas células.
- Os leucócitos, que matam microrganismos.
- As proteínas do soro (lisozima e lactoferrina), que matam bactérias, vírus e fungos.
- Os oligossacarídeos, que previnem ligação da bactéria na superfície mucosa e protege contra enterotoxinas no intestino, ligando-se à bactéria.
- O fator bífido, que favorece o crescimento do Lactobacilus bifidus, uma bactéria saprófita que acidifica as fezes, dificultando a instalação de bactérias que causam diarreia, tais como Shigella, Salmonella e Escherichia coli.
Além dos fatores de proteção, o leite materno contém outros fatores bioativos, tais como a lipase, que facilita a digestão da gordura; e o fator de crescimento epidérmico, que estimula a maturação das células intestinais, melhorando a digestão e a absorção de nutrientes, diminuindo a infecção e a sensibilização por proteínas estranhas.
A composição de leite materno sofre modificação de acordo com o tempo de lactação e no decorrer da mamada conforme citado anteriormente. Entretanto, surpreendentemente, apresenta composição semelhante para todas as mulheres que amamentam no mundo.
O leite do início da mamada, pelo seu alto teor de água, tem aspecto semelhante ao da água de coco. Porém, ele é muito rico em anticorpos. Já o leite do meio da mamada tende a ter uma coloração branca opaca devida ao aumento da concentração de caseína. E o leite do final da mamada, o chamado leite posterior, é mais amarelado devido à presença de betacaroteno, pigmento lipossolúvel presente na cenoura, abóbora e vegetais de cor laranja, consumidos pela mãe. Resumindo: não existe leite fraco! Cada mãe produz um leite padrão ouro (espécie- específico), repleto de nutrientes, imunidade e AMOR.
Em caso de dúvidas ou dificuldades com a amamentação procure um profissional habilitado. Cada caso é um caso e precisa ser avaliado de forma individualizada.
Por:
Desirré Duda
Nutricionista Materno Infantil
Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente – UFPE
Especialista em Nutrição Clínica – IMIP
@desirrenutricionista
Referências:
- The Optimal Duration of Exclusive Breastfeeding: Report of an Expert Consultation. Geneva (Switzerland): WHO; 2001. 2.
- Daniels MC, Adair LS. Breast-feeding influences cognitive development in Filipino children. J Nutr 2005;135:2589–95.
- Zivkovic AM, German JB, Lebrilla CB, Mills DA. Human milk glycobiome and its impact on the infant gastrointestinal microbiota. Proc Natl Acad Sci USA 2011;108(Suppl 1):4653–8.
- Allen LH, Dror DK, Introduction to Current Knowledge on Micronutrients in Human Milk: Adequacy, Analysis, and Need for Research. American Society for Nutrition. 2018;9:275S–277S.
- Allen LH, Dror DK, Overview of Nutrients in Human Milk v American Society for Nutrition. 2018; 9:278S–294S.
- Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Aleitamento materno e alimentação complementar– 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015.
- Aleitamento Materno: Aspectos Gerais. Elsa Regina Justo Giugliani. Cap 22.
- Banco de Leite Humano. Marisa da Matta Aprille, Rubens Felerbaum- São Paulo. Ed Atheneu, 2011.